Biden se defende, se repete e retrata a saída caótica do Afeganistão como êxito

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Enquanto o Talibã declara vitória, presidente tenta convencer americanos que o desfecho trágico da guerra de 20 anos era inevitável. O presidente dos EUA, Joe Biden, durante pronunciamento sobre o encerramento da retirada do Afeganistão, na Casa Branca, na terça-feira (31)
Reuters/Carlos Barria
Num discurso para marcar o fim desastroso da guerra mais longa dos EUA, o presidente Joe Biden ficou na defensiva e se mostrou repetitivo. “Era uma escolha entre a saída ou a escalada militar”. “Eu não estenderia esta guerra para sempre e não estenderia uma saída para sempre.” “A ameaça terrorista se espalhou por todo o mundo, muito além do Afeganistão.” “É hora de olhar para o futuro e não para o passado.”
Suas palavras eram endereçadas apenas ao público americano. Aos compatriotas, Biden enumerou as vantagens de retirar as tropas do Afeganistão e encerrar a guerra: livrar-se do custo diário de US$ 300 milhões durante duas décadas, focar em uma competição séria com a China e enfrentar os desafios que a Rússia apresenta ao EUA.
Uma terceira década de permanência no Afeganistão seria inviável, conforme constatou o presidente. Os americanos parecem concordar. Uma pesquisa do Pew Research revelou que 54% dos entrevistados apoiam a decisão de retirar as tropas; 42% a classificam como errada e consideram pobre a estratégia de saída conduzida pelo presidente.
Faltou na mensagem de Biden o reconhecimento aos afegãos, sobretudo aos que trabalharam com os EUA nos últimos 20 anos e ficaram para trás, sob o domínio dos talibãs. O presidente se vangloriou da operação que em duas semanas retirou do país 120 mil pessoas, 5.500 com cidadania americana. Mas estima-se que cerca de 100 mil em situação vulnerável não conseguiram sair.
Avião militar dos EUA decola do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, na segunda-feira (30), pouco antes do fim do prazo de retirada das tropas do país.
AP Photo/Wali Sabawoon
Entre eles, estão cerca de 4 mil estudantes, funcionários e famílias da Universidade Americana do Afeganistão, em Cabul, um dos primeiros locais invadidos por militantes talibãs. Centenas esperaram no domingo durante sete horas para entrar no aeroporto, mas foram informados de que a operação de evacuação havia terminado e não haveria mais voos. Voltaram apavorados para suas casas.
Se Biden procurou convencer os americanos de que o fim da guerra era inevitável e necessário, o Talibã assumiu o controle do Afeganistão declarando vitória. Militantes do grupo radical atiraram para o ar e exibiram caixões cobertos com bandeiras americanas.
Para os afegãos, no entanto, não há o que festejar. O fim da guerra marca o início de uma nova era, que já se antevê como sangrenta e trágica para o país.

Fonte: G1 Mundo