Fábio Assunção reflete sobre amor monogâmico em tempos de ‘hipocrisia’ na série ‘Fim’

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Trama estreia nesta quarta-feira no Globoplay e se passa a partir dos anos 60: ‘Era uma sociedade do meio-termo, porque não se assumia não-monogâmica, nem puritana’. Veja o trailer de ‘Fim’
Fábio Assunção achou muito esquisito se ver com um aplique de sedosos cabelos loiros, numa versão mais jovem dele mesmo, que aparece na série “Fim”, disponível a partir desta quarta-feira (25) no Globoplay (assista ao trailer acima).
“Aquilo não cabia em mim direito. Eu ficava: gente, não está muito exagerado?”, lembra aos risos, em entrevista ao g1.
Mas o desconforto era só estético. O ator não é do tipo que se angustia com a passagem do tempo: aos 52 anos, diz não ter medo de envelhecer. “A gente pensa que a vida vai acabar lá na frente e tem medo de chegar nesse lugar. Mas tudo que fazemos é para colher algo amanhã”, reflete.
“Com 17 anos, eu estudava, com 19, fui para a televisão e trabalhei. Tudo isso não foi para chegar aos 52? Não tem lógica não querer mais avançar.”
Fábio Assunção e Marjorie Estiano são Ciro e Ruth na série ‘Fim’
João Cotta/Globo
Inspirada no livro best-seller homônimo, escrito por Fernanda Torres, “Fim” é um ensaio sobre o decorrer dos anos e tudo que leva ao inevitável: a morte. A trama se passa ao longo de mais de quatro décadas — de 1968 a 2012 –, por isso a necessidade de rejuvenescer e envelhecer os personagens.
Estes, por sua vez, são Ribeiro (Emílio Dantas), solteirão que se envolve com mulheres bem mais novas; Silvio (Bruno Mazzeo), funcionário público hedonista; Álvaro (Thelmo Fernandes), homem atrapalhado e com problemas de ereção; Neto (David Junior), fiel à mulher até o fim da vida; e Ciro, personagem de Fábio, sedutor convicto e o primeiro a morrer.
O velório dele é o ponto de partida para a apresentação da história, que passeia entre o passado e o presente de forma não linear. Uma falta é sentida na cerimônia: a de Ruth (Marjorie Estiano), ex-mulher de Ciro, com quem ele viveu um amor de cinema, invejado por muitos, até tudo desandar.
As dificuldades do casamento e da monogamia são temas centrais na trajetória do protagonista vivido por Fábio. Para o ator, a época em que a trama se passa tinha um jeito particular de lidar com a fidelidade.
“Era uma sociedade do meio-termo, porque não se assumia não-monogâmica, nem puritana. Existia uma certa obrigatoriedade em parecer ser alguma coisa, mesmo com todo mundo sabendo que não se era nada disso”, diz.
“Tem uma palavra para isso: hipocrisia. Mas, nos anos 60, ninguém ia chamar um amigo de hipócrita porque ele saiu numa noite e foi infiel.”
Fábio, que na vida real anunciou recentemente o fim do casamento com a atriz Ana Verena, se emociona ao falar do drama de seu personagem: “A série mostra a dificuldade de comunicação do marido com a mulher. A gente ainda vive isso. Os casais ainda passam por essa dificuldade”.
Trincado?
Além do megahair loiro, a caracterização de Fábio para interpretar Ciro incluiu uma perda radical de peso. Foram quase 30 quilos de outubro de 2019 até o início das gravações de “Fim”, em abril de 2020.
Fábio Assunção em foto publicada no Instagram em agosto de 2021
Reprodução/Instagram
Mas, como uma pandemia separa o começo e o término das filmagens (a maior parte das cenas foi gravada no início de 2022), ele pede cautela aos que forem assistir à série esperando por um físico impecável:
“Isso é uma roubada. Quando rodamos, eu já não estava mais com esse peso todo a menos. Foram criadas expectativas, mas eu não vou aparecer trincado”, brinca.
“Fim”, o livro de Fernanda Torres (que é também criadora da série), foi lançado em 2013. Só em seu primeiro ano, vendeu mais de 100 mil cópias. Fábio conheceu a obra quando contracenava com a autora na série “Tapas e Beijos” (TV Globo).
Elenco da série ‘Fim’, do Globoplay
Divulgação/Globo
“Ele mexeu muito comigo por ser uma história de amizade, em que cada um desses amigos tem uma vida muito crível, muito humana”, afirma.
Para o ator, as trajetórias de Ciro, Ribeiro, Silvio, Álvaro e Neto dialogam com dilemas políticos e sociais que o Brasil viveu desde o ano em que o livro chegou às livrarias. Isso inclui a pandemia, que, na percepção de Fábio, aumentou o isolamento e mudou a relação das pessoas com o tempo, um elemento fundamental para a trama.
“Ele, o tempo, é uma entidade maior. É a própria criação. Eles passam juntos quatro décadas e você vai vendo como ele age nas personalidades dos personagens, como é inevitável a linha do tempo e o que cada um faz nesse percurso.”

Fonte: G1 Entretenimento